27.7.09

LAVANDO A ALMA COM POESIA

SOMBRAS

Meus olhos fecham...
Acabaram de fechar!
Estou escrevendo estes versos,
Mas já morto!
Sem veias, coração e mente...
Com a alma cortada
E o corpo doente!

Meu cadáver sente dor!
Desejo a dormência de minha alma...
...Ela dói, sofre, mas chora calada!

Eu sou um defunto
Que ri da cara de almas babacas!
Fui enterrado vivo.
Hoje morto, canto, sorrio e danço,
Mas com um bocado de sombras
zombando de minha cara.

Meu cemitério é um mar de corpos vivos matando-me!
Minha prisão perpétua
É saber que sou dono de muitos crimes!

Hoje morto estou porque já matei de mais!
Todo homem já nasce defunto, já morre feto!
Já nasce sujo, já morre fétido...

KEKEL

CORDEL

O VELÓRIO DO MACHISMO

Mulheres gostam de malandragem
E mentiras bem disfarçadas de verdades,
Verdades verdadeiras elas mentem gostar...
Homens certos e regradinhos, então
Terminam sempre com o cotovelo na dor,
Pois a dor de cotovelos fica para elas,
Que não se casaram com o canalha bom de cama
E que todo dia as fazia chorar,
De alegria com tuas tocantes palavras
Ou de tristeza com as palavras das meretrizes a clamar!

A mulher foi uma sina cometida,
Uma obra do homem arredia e ardida,
Uma prova da humanidade.
Uma lágrima e um sorriso,
Seja de um tribufú ou uma beldade.
Foi o machismo de deus,
Foi obra criada contra maldade!
A mulher é uma condenação voraz,
É berço de menino, é cruz de satanás.
É alma sem corpo, é terremoto, tufão e furacão
Girando em torno na paz!
A mulher é o homem pelo avesso.
É segredo, é desprezo,
É aonde choro, sorrio e assim me padeço!

O homem é a mulher em seu espelho,
É a larva do vulcão, um ser sem coração,
É veia sem sangue, é um morto no caixão!
Por tudo no mais assim ter a mulher,
Do canalha ela gosta, o valente ela quer.
O idiota, o boboca e o certinho ela suja,
A mulher, incrédulo,
No dia é um ganso disfarçado de coruja,
Na noite, para amar, é um coelho disfarçado de preá,
É a onça tarada sem disfarce,
É um boto rosa fora do rio e afogado no mar!

Certas, então, elas mulheres são...
Se já nasceram na mortalha,
Por que desprezar um canalha,
E não fazer sangrar o coração?
Nos corpos pelo avesso,
O homem é a redenção de uma mulher,
Que ele seja o canalha, o cafajeste e o babaca
Se tudo isso o homem assim não o ser,
O que será o que é?
Quem serás? Serás tu, ó mulher,
O martírio de um deus que não resa,
O sofrimento dos passos largos de uma garça,
O bisaco do caçador sem caça,
O corpo do homem na desgraça,
O berço da alma na lama,
O corpo do homem sozinho na cama,
Assim... a morte do machismo profana!
O olho da natureza chora,
O brilho do sol se apaga
E tudo fica escuro...
O azul do céu implora e grita na mesma hora:
Mulher!... coração de homem é bicho duro!
Mais parece uma rocha,
Só não é mais forte,
Que coração de moça cabrocha.
Ela nos vira e desvira.
Ela grita, sangra e manda,
É só bater o pé...
Tô pra ver coração mais duro
Que coração de menina moça muié!

KEKEL

LAVANDO A ALMA COM POESIA

O BRILHO DE UMA ESCURIDÃO

Não sei se devo falar de estrelas,
Lua ou sol... brilham de mais:
Um brilho falso...
Ofuscam o brilho de minhas veias.

Prefiro a escuridão de meus olhos:
Não ofusca nada!
É um brilho cego,
Faz tremer meus órgãos vitais
Deixando-me morto sem brilho algum...

Aplaudo a escuridão dos mares e rios,
Que brilham por culpa de escamas
De nuvens carregadas negras águas!

O brilho do sol não é capaz de me queimar...
Irradia-me a noite.
É quando meus olhos viram zumbis
Zanzando na busca do que me durma para a eternidade
Do que me deixe radiante na sua morte em mim,
Que sou nebuloso em alma
E no inanimado de minha constelação,
Mas ofuscante em corpo, em vida,
Em passos ao caminho de teu velório!

Não viva em mim...
Vidas são falsas!

Quando morreres em mim por inteira,
Perceberei que definhamos totalmente.
Já morri faz tempo!
E foi por você,
Por causa do seu brilho fingido,
Da escuridão de seu riso hipócrita!

O brilho é covarde:
Só faz escurecer.
É uma ausência de impurezas!

Minha alma é suja,
Mas meu corpo é puro como o brilho do fogo,
Que só queima o que mata!

KEKEL

CORDEL

UM BEIJO EM MARIA BONITA

Conheço quem presta e quem não presta
Cabra macho e cabra frouxo
Tem muié que é boa de dança
E muié que é boa de arrocho

Conheço homem valente
Bandido, sordado e tenente
Sou fi de mãe macambira
Conheço o olhar do homem covarde
E olhar do homem com ira

Sou pai e fi de terra salgada
Piso em chão móiado de ói preto
Sou um branco azedo adoçado com sal
Fi adotivo de uma terra chamada Macau
Sou um galego que vive no gueto

Conheço pangaré valente
Puro sangue que trinca dente
Cavalo gordo preguiçoso
E cavalo mago que derruba gente
Quenga que na cama é uma cabra velha
E moça recatada que na cama é uma serpente
Fi de rico, ladrão
E fi de pobre, decente

Conheço jogador ruim de barai que tem sorte
Jogador honesto e ladrão
Jogador de sinuca por esporte
Jogador bom que joga sem tesão

Já comi muié de cafetão
Dama de copas e dama de espada
Dos reis de gravata, só levo lapada
E do valete de ouro, lamentação

Já beijei Dalila
Já venci sanção
Dei surra em Golias
Bebi cana com David
Que é meu irmão
Arranquei o bigode de Hitler
E tomei o punhal de lampião
Derrubei muitos castelos
Já fui herói e vilão
Vi leão dando o rabo
Já entrei em boca de tubarão

Já fui valente e covarde
Já corri de briga
Também já fiz muito alarde
Só não deixei moça bonita
Me esperar sozinha no fim da tarde
Já masquei pé de urtiga
Apanhei em muita briga
Mas nunca de caboclo covarde
Sou um fogo que gela
Sou um gelo que arde

Se Lampião e jararaca vivos inda vivesse
Enfrentava os dois numa briga grande
Fazia Lampião chorar que nem menino
E Jararaca ficar sem sangue
Dava uma pêia nos dois
E massacrava o resto da gangue

Agora, em mulher eu nunca dei
Nem darei
Carinho e amor disso sabem que sei
Mas alisar coro de homem
Inda mais mal encarado e fêi
Ficou pra fi de puta
Que é sempre fi alhêi

Pra me vencer numa confusão
Não precisa revorve, espada ou facão
Basta uma linda donzela
E um nobre coração
Pois pra matar a minha ira
Deixe longe de mim a mentira
Traga perto deu a emoção

Sou brabo e sem vergonha
Sou pobre e sou rico
Nem sou filho de cegonha
Nem toda muié é pra meu bico

Já sorri de trizteza
Já chorei de alegria
Comi peba, fussura e buchada
Comi sapo pensando que era gia
Só não vi até hoje
Gato latir
Nem cachorro que mia
Preá pular feito macaco
Ou calango que assobia
Já dormir em balcão de bar
Já trepei de riba da pia

Já tomei revorve de sordado
E faca de açogueiro
Estilingue de menino
E peixeira de peixeiro
Mas nunca tomei pra mim
Coração de moça ruim
Que me deixou apaixonado
Pra todo tipo de homem sou perigoso
E pra muita muié mais pareço um veado
Mas se Maria bonita viva ainda fosse
Dava-lhe um beijo roubado
Virgulino seria corno
Eu, homem honrado
Todo mundo me temeria
Ah danada valentia!
Minha donzela pros meus braços corria
E viveria ao meu lado
Eu ficava logo mufino
Pois apesar de ter roubado a muié de virgulino
E ser um homem apaixonado
O povo agora me chamaria de acovardado
Vez que o amor da moça eu teria
Mas por uma triste ironia
Minha brabeza morreria
Me deixando um homem ababacado
Outro caboclo ela de mim roubaria
Eu ficaria fracassado
Pois sina de mulher
É deixar coração de homem amargurado

KEKEL

11.7.09

LAVANDO A ALMA COM POESIA

O SONO

Se em cabeças no sonho
De alguém passo,
É um vago imaginar
Num pesadelo sóbrio.

Sóbrios pesadelos
São só sonhos em não horrores...
Podem ser terrores, amores...
Nada importa,
São sempre amares!

São almas, vagas?
São mares, ares!
São mentes, sentes?
São findos infinitos lindos
Vindos e "indos"
Nos ares de arcos em íris nus!

Amém não ser pesadelo
Em odes podres de medos,
Se não seria imundo...
Amém ao teu sonho
No teu ser sonolento medonho
No meu teu nosso mundo!

KEKEL

CRÔNICA

COCEIRA NÃO ESCOLHE FURICO CERTO. PORQUE SE ESCOLHESSE!...

Se existe uma coisa constrangedora e chata, essa coisa é aquela coceirinha no fiofó quando se está num lugar público. O furico coça, você se contorce todo, dá uma agonia pior que qualquer dor de barriga. Você começa logo a suar... pense, é uma aperreio grande!

O cara está lá na fila do banco e começa coceirinha. Os cabelos do rabo parece que se engancham um no outro e causa um curto circuito anal. Começa a coceira e você tem logo a vontade de empurrar e balançar no rabo a caneta que está em sua mão. Pior tem uns que não estão nem aí: arrebitam o bumbum, levantam a perninha na pontinha de um pé só, socam a mão suja no danado do rabo por dentro da cueca e coçam o fiofó com todo vigor. O povo olha, fazem um ar de nojo, mas o “coçador” fica ali num prazer só... aliviado, aliviado! A madame que ta na fila do INSS diz: olha só que homem sem etiqueta! Mas quando ela acaba de falar, começa a se contorcer toda fazendo cara de baiacu: não é que a danada da coceira acabara de atacá-la. Fica com tua etiqueta moça, enquanto o barbudão coça mesmo o rabo!

E a danada da coceirinha é nojenta viu?! Ela ataca nos piores momentos: na fila do banco, do pão, da carne, na hora da ceia natalina, no pátio da faculdade, na praça de alimentação do shopping, e por aí vai... me lembro uma vez que no primeiro encontro com uma garota, na hora em que a cortejei e já ia beijá-la, a danada da coceira me ataca. Começo a beijá-la, vou ficando agoniado, suo frio, mexo o rabo pra lá e pra cá, a moça pensa que estou logo num maior sarro e amasso, ela se aperreia e corre embora... ainda bem! Consegui coçar meu furico à vontade!

Nisso, fico pensando na inércia de meus gestores públicos, que quaisquer políticas públicas não promovem! Só fazem com a canetinha criar leis, sancionar leis, sentenciar baseados em leis... pensam que a lei é mãe da vida social. Não percebem eles que é filha! Leis não mudam realidades. Realidades sim: mudam leis e as tornam podres!

Agora me pergunto: porque será que a danadinha da coceirinha nunca ataca o rabo desses gestores na hora em que eles estão com a canetinha prestes a cometerem uma injustiça com rubricas? Com certeza essa canetinha pararia no lugar certo!

Na hora da injustiça a hora da justiça é da caneta!

KEKEL

3.7.09

LAVANDO A ALMA COM POESIA

VOCÊ É PROFUNDO


Sou...
Sou um sujeito profundo.
Um poço,
Mas um poço com fundo!
E no fundo do poço,
Nossa imagem sem fundo,
Nossa imagem no fim do mundo!
O nosso mundo!

Sou no que és,
És em mim...
Somos para sempre!
KEKEL,
POETA MOSSOROENSE DE NASCIMENTO
E MACAUENSE DE CRIAÇÃO!

2.7.09

CRÔNICA

A PERUA E A PINIQUEIRA

- Chega baranga!
- Fala perua!
- Creusa, marca logo meu esteticista as dez, manicure ao meio dia, reserva uma mesa no Le Fresquê as treze para o almoço, analista as dezesseis e as dezenove uma mesa no La brocoió para o jantar. E por fim, massagista as vinte e uma. Depois de um dia cheio desses já prevejo meu stress. Pra falar a verdade já acordo estressada e passo o dia uma pilha de nervos.
- Que é isso perua? Stress, você?
- É baranga, pra você que não faz nada é muito fácil não se estressar!
A piniqueira Creusa é uma mulher nascida no sertão do Sergipe, que foi para São Paulo desde menina, entre faxinas e faxinas, privadas e privadas, tanques e mais tanques de roupas. Hoje, secretária de uma perua.
Creusa que sempre viveu trabalhando como uma louca com a cara na merda dos outros limpando privadas e mais privadas, sempre teve o sorriso no rosto, a simpatia de um macaco e paciência de um egípcio, nunca destratou ninguém nem nunca teve massagista, esteticista ou analista. A perua, essa nunca deu um prego numa barra de sabão e vive com cara de pamonha azeda.
Onde estaria a alegria? O que nos torna felizes, nós mesmos ou a ação dos outros para conosco? O que somos ou o que temos? O que fazemos ou o que nos fazem? O que é ou o que foi? O que conquistamos ou o que ainda conquistaremos? O que nos torna felizes, matar ou morrer?
Sei lá!...
Enquanto a perua chora, a piniqueira ri!

KEKEL